quinta-feira, 29 de março de 2012

Apenas pondere consigo mesmo como são diversos os sentimentos, como são divididas as opiniões, mesmo entre os conhecidos mais próximos; e como até mesmo opiniões iguais têm, na cabeça de seus amigos, posição ou força muito diferente da que têm na sua: como são múltiplas as ocasiões para o mal-entendimento e para a ruptura hostil. Depois disso, você dirá a si mesmo: como é inseguro o terreno em que repousam as nossas alianças e amizades, como estão próximos os frios temporais e o tempo feio, como é isolado cada ser humano! Se alguém se dá conta disso, e também de que todas as opiniões, sejam de que espécie e intensidade forem, são para os nossos amigos tão necessárias e independentes de sua responsabilidade como seus atos; se alguém chega a compreender como essa necessidade interna das opiniões decorre do indissolúvel entrelaçamento de caráter, ocupação, talento e ambiente - talvez se livre da amargura e aspereza de sentimento que levou aquele sábio a lamentar: "Amigos, não há amigos!". Essa pessoa dirá antes a si mesma: sim, há amigos, mas foram os erros e ilusões deles acerca de você que os conduziram até você; e eles devem ter aprendido a calar, a fim de continuar seus amigos; pois quase sempre tais laços humanos se baseiam em que certas coisas jamais serão ditas nem tocadas: se essas pedrinhas começassem a rolar, porém, a amizade segue atrás e se rompe. Haverá homens que não seriam fatalmente feridos se soubessem o que a respeito deles sabem no fundo seus mais íntimos amigos? - Conhecendo a nós mesmos e vendo o nosso ser como esfera cambiante de opiniões e humores, aprendendo assim a nos menosprezar um pouco, colocamo-nos novamente em equilíbrio com os outros.

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